sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Trocaram as estações ...

Acredito que o mundo inteiro viu o vídeo da bebê YueYue que foi atropelada 3 vezes por 2 carros diferentes e ficou largada no chão ignorada pelos transeuntes durante alguns minutos até que Chen Xiaomei a retirou do meio da rua e saiu procurando ajuda. A menininha teve morte cerebral.


O mundo se comoveu (quem não sente o coração doer vendo uma cena infeliz dessas?) e existem milhares e milhares de mensagens por aí falando do assunto.

Mas eu tenho algumas dúvidas:

- Sem tirar o título de heroína de Xiaomei (e sem levar em consideração questões políticas como o comunismo da China), desde quando socorrer alguém é um ato heróico? A partir do momento em que somos seres humanos, isso não deveria ser ... obrigação??

- Quantas das pessoas que publicaram o vídeo, postaram mensagens dizendo que os chineses são animais*, que não têm coração, e toda a sorte de "elogios", realmente se mexeriam diante de uma situação em que um outro ser humano está precisando de ajuda?

É fácil jogar a desculpa no comunismo chinês e é igualmente fácil rotulá-los. Mas e se essa situação fosse aqui no Brasil, onde existe liberdade, onde todo mundo se ama, vive em perfeita harmonia com coqueiros e praias espalhadas aos quatro ventos??

O que mudaria? Nada.

Hoje a tarde comprovei isso ao vivo:

Eu estava num cruzamento próximo à Av. Paulista (preciso dizer que o tráfego de veículos e pedestres era intenso? Acho que não!) e quando fui cruzar a rua, um senhor que estava logo à frente deu um passo em falso e caiu com tudo no chão, de bruços. Tentei segurá-lo, mas não consegui porque eu não estava tão perto.
(Eu estava com meu violino nas costas e com uma bolsa pesada) 
Corri para ajudá-lo a se levantar, mas ele não conseguia se reequilibrar. O senhor deveria ter uns 65 anos, cerca de 1.75 m e era bem forte. Convenhamos que eu nunca conseguiria suportar o peso dele.
Fiz a maior força para tentar levantá-lo e ao mesmo tempo a cena que vi foi: carros querendo passar, pessoas ao redor olhando para o além e NINGUÉM se movendo para ajudar!!
Tinha um homem ao lado e eu comecei a gritar: "Moço, não está vendo que este senhor caiu e eu não estou conseguindo levantá-lo?? Você não pode me ajudar??" 
A resposta dele foi: "Ah! Ele caiu? Se você tivesse me avisado que ele ia cair eu teria segurado!" 
Eu ignorei essa parte (afinal tombos são planejados, não?!) e falei: "pegue no outro braço e me ajude a levantá-lo e tirá-lo daqui, agora!"

Bem ao lado havia um ponto de táxi e eu falei para o senhor se sentar no banco de lá. Um dos taxistas - que presenciou a cena - disse: "Ué, o que aconteceu?"
Eu: Ele caiu bem aqui na frente!
Ele: Ah! Bem que estranhei que ele estava no chão! Eu o conheço. Ele trabalha ali."
Minha vontade era de responder: "Sim! Afinal é super normal senhores se deitarem no meio das ruas sobre as faixas de pedestres, né?"
Eu: Então já que o senhor o conhece pode tomar conta dele até ele melhorar e levá-lo de volta para lá porque estou um pouco atrasada?
Ele: Ahn!? ... está bem. Eu fico de olho.


Qual é a desculpa para pessoas passarem incólumes por um senhor tropeçando e caindo no meio de uma via movimentada? (Detalhe: Ele estava de uniforme do trabalho. Não adianta vir com desculpas de que poderia tratar-se de um ébrio. E se fosse?)


* Não. Não existe desculpa! E os chineses (ou qualquer outra nacionalidade) não são animais. Animais salvam animais!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Pipas

Ontem eu entrei numa papelaria do bairro e vi algumas pipas penduradas numa parede no fundo da loja. Imediatamente retornei à infância, pipa me lembra férias no interior, me lembra uma época em que a única preocupação era saber se o vento estava bom para empinar pipas! Pipa era "coisa de menino", mas eu sempre levei jeito com artesanatos, então eu tinha permissão para ajudar os meninos a fazer as pipas! Cortar os papéis de seda, colar em volta das varetinhas, cortar tirinhas para as rabiolas ... No geral minha função terminava aí. Depois era só ficar olhando os meninos correndo para cá e para lá tentando fazer as pipas coloridas subirem mais e mais! Cerol era permitido! E era o máximo quando alguém cortava a linha e uma pipa caia por perto!
Mas o dia mais legal e incrível foi o dia em que um primo me colocou como assistente porque o vento estava muito forte e não tinha menino disponível para ajudar! Ele controlava a pipa e eu fiquei com a função do carretel! Me senti super importante no alto dos meus 8 ou 9 anos afinal eu tinha estado por alguns minutos num universo exclusivo!!

E, ontem, muuuitos anos depois aquela sensação retornou quando vi as pipas no fundo da loja! Hoje em dia as crianças da cidade crescem sem nunca terem visto uma pipa!!!

Bons tempos! Tempos que não retornam!!