quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mahler 3 ...

Sexta-feira fui assistir à terceira sinfonia de Mahler com a OSESP na Sala SP. Eu estava super anciosa para assistir esse sinfonia e saí 95% satisfeita.

Essa sinfonia - a mais longa de Mahler, com cerca de 1h40 de duração, foi escrita entre 1893 e 1896 - originalmente possuia 7 movimentos, porém o sétimo ("O que dizem as crianças") foi retirado e colocado como o movimento final da 4º sinfonia.
Os movimentos recebem os seguintes títulos:
  1. "Chega o Verão"
  2. "O que me dizem as flores do campo"
  3. "O que me dizem os animais da floresta"
  4. "O que me dizem os homens" (solo de contralto, texto de Also Sprach Zarathustra - Nietzche)
  5. "O que me dizem os anjos" (contralto com coro feminino e infantil)
  6. "O que me diz o amor"
O primeiro movimento é belíssimo e eletrizante. Numa aula-análise que fiz dessa sinfonia, foi dito que Mahler imaginava os temas de suas sinfonias como personagens e isso fica bem explícito nesse primeiro movimento. Começa com o tema 1 bem potente e com uma micro introdução do tema 2, depois volta o tema, desenvolvimento e então uma "batalha" entre os temas 1 e 2 (batalha entre o bem e o mal). O tema 2 vai se mostrando enfraquecido (essa parte tem pausas bem longas e eu tinha CERTEZA que nesses momentos não ouviríamos o silêncio e sim um monte de tosses e pessoas se reposicionando na poltrona. Exatamente o que aconteceu!) e o 2 vai tomando espaço e vence. 

Depois vem o segundo, terceiro e, finalmente o quarto.
O quinto movimento tem os sinos, Pedro dizendo que transgrediu os dez mandamentos e os anjos lhe dizendo para que ele se ajoelhe e reze a Deus para que tenha a felicidade celestial.
E por fim, a conclusão com o sexto movimento "o que diz o amor". É um adágio que nos faz viajar por alguns instantes. Existem movimentos lentos que dão sono. Mahler sabia fazer movimento lento que prendem a atenção de quem ouve e faz com que a mente vá longe! Lindíssimo e brilhantemente executado.

Minhas impressões positivas (95%): 


- a OSESP é a OSESP e eu, como fã de carteirinha que sou, sempre acho incrível. E realmente foi incrível apesar de ser uma obra longa e desgastante para quem toca.
- o maestro - Giancarlo Guerrero - foi ótimo. Os movimentos dele eram super bem sincronizados com cada momento da peça e ele pareceu muito entrosado com a orquestra
- A contralto foi a parisiense Nathalie Stutzmann. Ela é incrível. A voz sai sabe-se lá de onde porque ela não demonstra esforço nenhum! O solo foi maravilhoso!
- como o último movimento é lento, aconteceu algo que normalmente não acontece: a platéia deixou o som da última nota fluir antes de aplaudir e berrar os (merecidos) "bravos". Detesto quando a orquestra toca a última nota e antes que a nota soe por completo alguém já berra e começa a aplaudir!
- No geral esse Mahler valeu por cada minuto em que ansiei por apreciá-lo.


Minhas impressões negativas (5%):


- não sou especialista em física acústica, mas estranhei o fato do teto da Sala estar extremamente alto e praticamente plano. Creio que isso pode ter influenciado na qualidade sonora, principalmente dos pianíssimos!
- senti alguns probleminhas técnicos nos metais (alguns) em certos pontos. 
- O coro estava excelente, mas achei lamentável ter que ficar forçando para tentar ouví-lo já que estava reduzidíssimo e quando a orquestra tocava um pouco mais forte, adeus coro!
- As crianças!! Os sinos são tão importantes no quinto movimento e cadê as crianças? Quem consegue a proeza de fazer as vozes de "meia dúzia" de crianças aparecem por cima de uma orquestra com mais de 100 músicos tocando ao mesmo tempo???
Quando era possível ouvir, dava para ver que as crianças estava cantando super bonitinho, trabalho muito bem feito. Só que na maior parte do tempo só víamos as boquinhas mexendo e som nenhum chegando. 
Os sinos ficaram a desejar! 
- Em determinados momentos a voz da própria Nathalie foi "derrubada" pela orquestra.


Essas duas últimas nada tem a ver com a orquestra mas, sim, com a platéia:


- não sou vidente, mas bem antes do concerto eu tinha dito para alguns amigos: prestem atenção nas longas pausas, pois elas serão "momento-tosse-arruma-na-poltrona" e, de fato, foi isso que aconteceu
- lei de Murphy: alguns (poucos) celulares tocaram e/ou foram desligados, CLARO, nos momentos-piano apesar da  gravação de TODO concerto pedindo para desligar celulares e aparelhos sonoros.


Curiosidades:


Para quem não sabe, Also Sprach Zarathustra, é um livro de Friedrich Nietzche. Strauss fez um poema sinfônico homônimo inspirado (óbvio) nessa obra. Mahler usou o texto do livro de Nietzche em sua sinfonia e não a obra de Strauss! Aliás ambos foram compostos no mesmo período!
Ah! Para quem ainda não se localizou, o poema sinfônico de Strauss é aquele tema do filme 2001-Uma Odisséia no Espaço. Pois é ... foi Strauss quem o escreveu!


Falando em cinema, muita gente se inspirou nas obras de compositores para suas trilhas sonoras. E já que o tema é Mahler 3. Sabe o tema 2 do primeiro movimento?? 





Reconhece suas primeiras notas aqui?? (para facilitar, inicie o vídeo em 2'48'')



Parece que "Walt Disney" teve uma inspiração-mahleriana! 



Para finalizar quero deixar claro que eu não sou nenhuma especialista em Mahler (ou qualquer outro compositor), mas não preciso ser para dizer minhas opiniões. Digo isso porque uma vez, ao ser indagada sobre um concerto X e dar uma opinião diferente a da pessoa (sabe aquelas pessoas que te perguntam algo, mas a única resposta que você pode dar é a que ela quer ouvir? Então ...), ela disse: "Por acaso você já estudou esse concerto? Já analisou? Já escutou milhares de interpretações para comparar? Então você não pode dizer isso"

quinta-feira, 7 de outubro de 2010