Rotina.
Sair de casa 2 horas antes para fazer um trajeto que, em condições normais de trânsito, levaria 20 minutos.
Acostumamos.
Acostumar não quer dizer aceitar ou coisa do tipo, mas vamos levando. Às vezes eu fico extremamente irritada quando vejo os minutos passando e o ônibus não saindo do lugar.
Fico estressada quando a chuva começa no exato segundo em que coloquei os pés para fora do metrô e pára no instante em que chego ao meu destino.(Essa situação é diretamente proporcional ao esquecimento do paráguas*)
Muitas vezes costumo me abstrair do mundo ouvindo música alta o suficiente para não ouvir nada ao redor. Boto meus óculos escuros, fone de ouvidos e boa viagem. De certa forma costumo ficar mais calma.
Outras vezes - quando estou de melhor humor - gosto de prestar atenção ao redor. Já falei sobre isso inúmeras vezes (talvez não aqui no blog). Acho bem interessante prestar atenção e analisar as atitudes, as conversas alheias. Não no sentido de 'bisbilhotar', mas no sentido de pesquisar mesmo.
Gente trocando receitas de comidas, de tricô, de remédios, ..., gente contando vantagem/desvantagem, gente reclamando do chefe, gente planejando, gente chorando, gente feliz ...
Desde que me entendo por gente-usuária-de-transporte-público, costumo acompanhar a vida ao redor. Se eu tivesse anotado tudo que já ouvi e achei interessante, já teria muitos e muitos capítulos escritos.
- Já escutei advogado contando que o pai do cliente pagou para que o advogado prolongasse o tempo do filho na cadeia, pois o filho era viciado em drogas.
- Já escutei uma moça dizendo que estava fazendo de tudo para engravidar e que tão logo isso acontecesse, tiraria uma licença afim de passar os 9 meses em casa recebendo sem trabalhar. (A colega-ouvinte indagou: tá, mas depois tem a criança. O que você vai fazer? Ela disse: nisso ainda não pensei!)
- Já escutei uma senhora contar que ao passar perto de um cemitério resolveu comprar uma lápide e que havia mandado gravar tudo certinho: nome, data de nascimento, frase... Só ficou o espaço para a data da morte - pois isso ela não sabia!. (A senhora-ouvinte perguntou: Lápide? Tenho medo dessas coisas. Pra que você fez isso?? Onde você guarda??
Ela respondeu: Fiz e não me arrependo. Assim evito que escrevam qualquer coisa que eu possa não gostar. Guardo embaixo da minha cama!)
Também tem as pessoas que são de fora e não estão acostumadas com milhoes de pessoas na rua todos os dias.
Quem passa pelo metrô da Sé, sabe que existe o "6 na Sé". É um programa de entretenimento que começa as 18h, assim o pessoal pode passar o tempo se distraindo até que consigo embarcar.
Há poucos dias o metrô chega na Sé e abre as portas no exato momento em que o público batia palmas e assobiava para os cantores. Uma mulher de outro estado que estava andando de metrô pelo primeira vez quase morreu quando viu o arrastão de pessoas e ouviu as palmas e assobios.
Ela começou a gritar dentro do metrô:
- Misericórdia! Deve ser briga. Fecha moço!! Fecha moço!!! (Falando para o condutor - que não estava ouvindo por motivos óbvios!!)
Um caso similar aconteceu numa feira livre próxima de casa. Eu estava com minha mãe quando passa uma turma de turistas. Era um feriado prolongado, a feira estava vazia (vazia = cheia. Cheia = entupida de gente). Comentei com minha mãe: Que ótimo! Hoje dá para andar e enxergar as coisas!! Mal acabo de pronunciar tais palavras quando alguém do grupo de turistas supracitados diz: "Nooossa!!! Nunca vi lugar tão lotado de gente. Acho que o bairro todinho resolveu vir aqui no mesmo horário!!"
É ... analisar ao redor é interessante!! Me divirto com isso!!
* Paráguas = guarda-chuvas em espanhol. Palavra+função = bem mais óbvio em espanhol do que em português!!
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